Um alerta para o segmento condominial: ameaças, corrupção e a luta pela transparência expõem a vulnerabilidade de síndicos que buscam a integridade na administração.
Este foi tema de artigo publicado no Portal Sindiconet por Catarina Anderáos sobre as experiências de Társia Quilião e Domichelica Armentano que lançam luz sobre a grave vulnerabilidade de síndicos que, ao exercerem seu dever de proteger o patrimônio comum e o bem-estar dos condôminos, veem sua integridade física, psicológica e profissional ameaçada.
A reportagem não se limita aos relatos dessas síndicas; ela também oferece a perspectiva de moradores e a análise de advogados, que apontam medidas legais cruciais para salvaguardar não só a figura do síndico, mas também a gestão condominial e os interesses de toda a coletividade. Ademais, o texto sublinha o papel fundamental dos moradores na criação de um ambiente condominial saudável, harmonioso e transparente, através de sua participação ativa e do exercício responsável de seus direitos e deveres.
A rotina de um síndico, profissional ou morador, vai muito além da organização de assembleias e da supervisão de manutenções. Uma realidade sombria, que emerge com crescente frequência no cenário condominial brasileiro, revela um submundo de ameaças, perseguições e até violência física direcionada àqueles que ousam combater irregularidades e defender a transparência na gestão.
Os bastidores dessa luta expõem cartéis estabelecidos, interesses obscuros e a urgente necessidade de medidas legais para proteger não apenas os síndicos, mas toda a comunidade condominial.
A formação de cartéis em condomínios se configura como uma prática ilegal e danosa, onde fornecedores, prestadores de serviço e até mesmo grupos internos manipulam preços e condições contratuais, limitando a concorrência e inflando os custos para os moradores. Essa engrenagem corrupta cria um ambiente fértil para o desvio de recursos e a perpetuação de esquemas fraudulentos, tornando síndicos que buscam romper com essas práticas alvos de forte resistência e, em muitos casos, de graves ameaças.
Como se caracteriza um cartel condominial?
A Lei nº 8.137/90 e a Lei nº 12.529/11 tipificam o cartel como crime contra a ordem econômica, prevendo punições severas. No âmbito condominial, a identificação e o combate a essas práticas exigem auditorias rigorosas, gestão transparente e a participação ativa dos moradores nas decisões administrativas.
Os relatos de Társia Quilião e Domichelica Armentano, detalhados na reportagem, ilustram a perigosa realidade enfrentada por síndicos que se levantam contra a corrupção.
O caso de Társia Quilião: Ao assumir a administração de um grande condomínio horizontal, Társia deparou-se com um esquema de corrupção enraizado, marcado por cobrança de propina e contratos superfaturados. Suas tentativas de implementar medidas de compliance, como auditorias e revisão de contratos, desencadearam uma onda de sabotagens e ameaças, culminando em uma intimidação de morte que a levou a buscar proteção judicial.
A experiência de Domichelica Armentano: Em diferentes condomínios, Domichelica expôs graves irregularidades financeiras, como rateios para obras não realizadas e o sumiço de valores da venda de um imóvel do condomínio. Ao tentar apresentar essas descobertas, enfrentou forte oposição, incitação de funcionários e até intimidação física, incluindo uma ameaça com arma de fogo ao tentar impedir um esquema de estelionato dentro do condomínio.
A gestão condominial, que deveria ser pautada pela transparência e pelo bem-estar coletivo, revela um lado sombrio e perigoso para aqueles que ousam confrontar a corrupção. As histórias de Társia Quilião e Domichelica Armentano, síndicas profissionais que se depararam com esquemas ilícitos profundamente enraizados, ilustram a brutalidade das ameaças e a urgência de proteção para quem busca a integridade na administração de condomínios.
A eleição de Társia Quilião para administrar um dos maiores condomínios horizontais do Sul do Brasil, com suas 1.274 casas e milhares de moradores, já prenunciava um desafio complexo. O alerta deixado pela síndica anterior – que renunciou ao cargo após sofrer ameaças de morte – não era um presságio vazio. Ao assumir, Társia rapidamente desvendou um intrincado esquema de corrupção, onde fornecedores pagavam propina a membros da oposição para manter contratos superfaturados.
A determinação de Társia em trazer transparência se manifestou em ações concretas: contratação de auditoria preventiva, revisão minuciosa de contratos e a implementação de cotações comparativas. Pela primeira vez em anos, os moradores foram chamados a participar ativamente da gestão através de frequentes assembleias. Essa postura proativa, no entanto, acendeu o sinal de alerta nos grupos que se beneficiavam do sistema corrupto.
A reação foi imediata e violenta. Sabotagens físicas nas instalações do condomínio se tornaram rotineiras: objetos estranhos na piscina, equipamentos danificados e portões inexplicavelmente inoperantes. Paralelamente, uma campanha de desinformação era orquestrada em grupos de WhatsApp, distorcendo o trabalho de Társia e culpando-a pelos estragos causados pelas próprias sabotagens.
A escalada da violência culminou em uma ameaça direta e pessoal. “Sabe o bilhete que a outra síndica recebeu? Espera que você também vai receber. Se você não renunciar ou não for destituída, eu vou destruir a sua carreira, vou acabar com a sua vida”, foram as palavras carregadas de ódio e morte dirigidas a Társia. Diante da gravidade da situação, a síndica buscou amparo no Ministério Público, que agiu prontamente, determinando uma medida cautelar que impedia a agressora de se aproximar a menos de 300 metros, sob pena de prisão preventiva, além de proibir qualquer menção ao nome de Társia em redes sociais.
A experiência de Domichelica Armentano ecoa o pesadelo vivido por Társia, revelando um padrão de retaliação contra síndicos que investigam e expõem irregularidades. Em um dos condomínios onde atuou, Domichelica descobriu um rateio de R$ 360 mil para reforma de elevadores que nunca ocorreu, enquanto o dinheiro era gasto em “perfumaria”. Em outra situação alarmante, um apartamento do condomínio foi vendido em leilão, mas o valor da transação simplesmente desapareceu das contas.
Ao tentar apresentar essas descobertas em assembleia, Domichelica enfrentou uma resistência ferrenha por parte do conselho, que tentou silenciá-la e impedir a divulgação das informações. A tática de intimidação se estendeu aos funcionários, que foram incitados contra a síndica com alegações falsas de demissão, ‘quando na verdade seu plano era terceirizar os serviços absorvendo os próprios funcionários com redistribuição das funções, com o intuito de eliminar o passivo trabalhista.’
A situação atingiu um ponto crítico com ameaças físicas diretas a Domichelica e sua assistente, que estava grávida na época. A assistente era perseguida e intimidada pelo subsíndico, enquanto em uma assembleia tumultuada, até mesmo porteiros participaram das intimidações, proferindo insultos contra a síndica.
Em outro condomínio, a ousadia de Domichelica em impedir um esquema de estelionato operado por um morador inquilino a colocou em risco ainda maior. Ao implementar regras que restringiam o recebimento de encomendas apenas para moradores, ela desmantelou um esquema onde cartões de benefícios eram usados para compras fraudulentas entregues no condomínio. A reação do inquilino foi brutal: ele invadiu a sala da administração e colocou uma arma sobre a mesa, exigindo que Domichelica renunciasse. Apesar do medo, ela tentou alertar o proprietário do imóvel, mas foram os próprios moradores, cientes da agressividade do inquilino (que também agredia a esposa), que a aconselharam a renunciar por sua segurança.
Esses relatos detalhados revelam a vulnerabilidade dos síndicos que buscam a honestidade na gestão condominial e a urgência de medidas eficazes para protegê-los da violência e da intimidação de grupos com interesses obscuros. A luta por condomínios transparentes e seguros passa pela coragem desses profissionais e pela união da comunidade em defesa da legalidade.
Diversos fatores contribuem para o cenário de violência e ameaças contra síndicos, com destaque para:
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Diante desse cenário alarmante, a busca por proteção legal é fundamental. As medidas cautelares deferidas no caso de Társia Quilião, como o afastamento do agressor e a proibição de menções em redes sociais, demonstram que o sistema judiciário pode e deve ser acionado para garantir a segurança dos síndicos ameaçados.
No entanto, a construção de um ambiente condominial saudável e transparente depende também da participação ativa e responsável dos moradores. Ao exercerem seu papel com diligência, fiscalizando a gestão, buscando informações e combatendo a desinformação, os condôminos se tornam peças-chave na proteção dos síndicos honestos e na erradicação da corrupção.
A realidade de síndicos ameaçados expõe um lado sombrio e inaceitável da gestão condominial. Cartéis, corrupção e a disseminação de desinformação criam um ambiente perigoso para aqueles que buscam administrar com integridade e transparência. As histórias de Társia e Domichelica servem como um alerta para a urgência de fortalecer os mecanismos legais de proteção aos síndicos, ao mesmo tempo em que ressaltam o papel fundamental dos moradores na construção de condomínios mais justos e transparentes. A luta contra a corrupção no âmbito condominial é uma responsabilidade coletiva, essencial para garantir o bem-estar e a segurança de toda a comunidade.
Fonte: Portal Sindiconet por Catarina Anderáos
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